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Um mês depois de ser coroado Surfista do Ano em Newport Beach, Lucas Chumbo não estava atrás de ondas gigantes em algum canto do mundo — estava atrás dos filhos pela sala de casa, no Rio.

Nada de jet-ski ou previsão de swell. Só brinquedos espalhados pelo chão, risadas e um surfista tentando — e, na maior parte do tempo, falhando — em desacelerar.

Não é uma cena comum. O universo de Chumbo costuma ser feito de velocidade, caos e drops assustadores. Mas, quando conversamos, ele parecia em paz — aquele tipo de paz que só vem depois de anos flertando com o perigo, ou talvez de algo mais simples, como levar as crianças à escola e almoçar em família.

Ainda assim, aquela faísca continua lá. Sempre. Uma inquietude que simplesmente não vai embora.

Mesmo depois de ter vencido praticamente tudo o que havia para se vencer — Nazaré, o Big Wave Awards e agora o Big Wave Challenge — Chumbo ainda sente que falta uma peça: o Big Wave Tour.

No papo que tivemos, ele falou sobre o que ainda o motiva, como a paternidade mudou sua relação com o medo e por que, mesmo sendo apontado por muitos como o melhor surfista de ondas grandes do mundo, ainda não se considera um verdadeiro campeão mundial.

SURFER:Como foi subir ao palco para receber esse prêmio?
Chumbo: Foi um troféu suado, dolorido. Pegar todos esses swells em todos os lugares do mundo e sempre estar performando em alto nível... Desde 2018 eu não ganhava essa categoria, que é uma que tanto amo vencer. Muito feliz de trazer esse título de volta ao Brasil. Desde então, o Kai Lenny estava dominando, depois ficamos sem a premiação. A comunidade estava carente, mas, graças a Deus, voltou — voltamos a ser reconhecidos.

E o que vale mais? Surfer ou Ride of the Year?
Acho que a Surfer of the Year prova quem é o surfista mais completo — na remada, no tow-in, em diversas ondas ao redor do mundo, não só no seu local, na sua casa. É um título que amo muito, como falei, de surfista mais completo.

Já o Ride of the Year é aquela onda do ano, né? Também acho que é uma das categorias mais almejadas. Mas eu sou um cara mais da quantidade: eu vou pra todas, surfo várias ondas, não consigo ficar esperando aquela onda. Tenho um pouco mais de ansiedade pra surfar várias ondas.

De qualquer maneira, é bom ver a modalidade sendo reconhecida de novo, né?
Sem o Big Wave Awards, acabamos ficando meio que à deriva ali. Só rolavam alguns campeonatos, não tinha um tour… A gente meio que se sentia um peixe fora d’água. E, graças ao Bill Sharp, ele refez esse evento, reuniu toda a comunidade, levou os legends, mostrou quem está chegando, performando, a melhor, a maior onda do ano. Tudo isso é algo que o big surf meio que carecia. E, graças a ele, temos isso de novo nas nossas vidas — somos muito gratos.

É verdade que a premiação era mais alta no passado, mas, pra nós, surfistas de alma, esse troféu vale mais que dinheiro, é pelo reconhecimento. É o sonho de qualquer atleta.

Como continuar performando nesse nível com dois filhos pequenos?
Antes da Maitê e do Zion, eu parava pouco no Brasil, só quando precisava treinar. Ficava um pouco com a família e já estava sempre procurando um novo lugar pra ir. Agora, com os dois, são mais tiros certeiros. Antes, a barra era mais embaixo, foram seis anos intensos assim.

Hoje, eu também gosto desse momento em casa — família, levando na escola, buscando… são momentos incríveis. Não troco isso por nada. Sou um cara muito mais completo e responsável. Sempre pensando em ser o mais efetivo possível: voltar seguro pra casa, menos lesão, menos perigo, menos risco.

E como foi a primeira vez sendo pai?
A primeira vez que fui surfar um mar grande após o nascimento da Maitê foi em Teahupo’o, no Taiti. Cara, eu travei dentro d’água, respirei, tive até que conversar comigo mesmo. Falei: “Meu Deus, eu vivo disso, não tem como não. Não posso travar assim.”

E aí eu lembro que veio uma onda, todo mundo na água gritou: “Go, Chumbo!” Estava na remada, remei, fechei o olho, e pensei: “Só vou abrir o olho na hora do freefall.” Botei o pé na prancha, fiquei mais um pouquinho, e quando senti que a prancha foi, abri o olho e fiz a melhor onda da minha vida.

Foi a prova viva de que eu vivo pra isso. Então, a primeira onda depois da Maitê já foi a onda da minha vida. Com certeza, marcou minha história. Sou apaixonado pela minha família, mas também sou apaixonado pelo surfe de ondas gigantes — e vivo pra isso.

Voltando pras competições... Você acha que um dia teremos o Big Wave Tour de volta?
De verdade, seria um sonho ter o Big Wave Tour de volta. Que fosse na remada, no tow-in, misturado, o que fosse. Ficamos muito defasados sem o tour. Eu ainda vivi o último ano de tour, foi um ano dos sonhos, mesmo já com poucas etapas. Imagina se a gente tivesse seis, oito etapas, pudesse viver isso como o CT vive… Ficamos muito carentes.

Ser campeão em Nazaré é incrível, mas eu queria muito ser campeão mundial de verdade — ser campeão mundial em Nazaré, em Jaws gigante de tow-in, em Mavericks gigante na remada…

Até existem alguns eventos espalhados pelo mundo, mas não constituem um tour mundial. Então, a gente fica meio perdido, nadando pra todos os lados.

A ascensão do Big Wave Challenge te deixa um pouco mais otimista?
Como te falei, é um sonho poder ter um tour, poder ter o Big Wave Challenge, é um sonho ter essa cena do surfe de ondas gigantes acontecendo de novo. É um esporte caro — é caro pros atletas, é caro pra comunidade, pra eventos —, porém é um esporte de visibilidade gigante. Quando tu bota um evento ao vivo, é sempre um boom de audiência.

É um sonho. Tomara que o Bill Sharp consiga fazer isso virar. Apoio muito o Big Wave Challenge, gostaria que mais marcas aparecessem pra patrocinar, transformar num awards maior e, a partir disso, a gente possa ter o Big Wave Tour de novo.

Que seja na remada, no tow-in… Acho que tem tudo pra acontecer, agora é questão de tempo e de cair na mão de alguém com bastante influência e conexões pra fazer acontecer. Quem sabe o 100 Foot Wave não vira um evento? Ou se o Gigantes de Nazaré não faz uma liga mundial…

Enquanto não temos o BWT, qual é o maior objetivo?
Conseguir a maior onda do mundo é meu objetivo, com certeza — trazer esse recorde pro Brasil, pra mim. Mas acho que ela vai vir na hora que tiver que vir. Eu tô pronto pra ela. Vou dropar da melhor forma possível.

Mas não quero criar uma ansiedade nisso, porque o oceano vai me dar de presente. Vai acontecer, com certeza. Tenho que estar bem, pronto. Quando vier pra mim, estarei pronto, performando pra caramba.

Falando em maior onda, recentemente você bateu um recorde no Brasil — quase 15 metros de onda!
Cara, pois é, isso aconteceu! Foi muito bizarro! Saí de uma pós-lesão, e a Lage da Jagua foi meio que minha volta por cima. Era um swell meio incógnita, um ciclone, muito vento…

E o [Fabiano] Tissot, meu manager da Mormaii, é um cara difícil de dar a call — ele nunca dá a call, só quando realmente acha que vai ser perfeito. E aí ele falou assim: “Cara, acho que vai dar a maior Lage da Jagua da história.”

Aí eu estava na Bahia, com a família. Tinha ido de carro pra lá, então tinha que voltar tudo de carro pro Rio de Janeiro… Quando ele falou isso, já comecei a adiantar: “Família, vou tocando meu barco aqui, vocês pegam um avião, que vou ter que trabalhar.”

Aí fui pro Rio, dirigi 22 horas direto, peguei as pranchas, já peguei um avião à noite e fui pra Santa Catarina — e aconteceu!

Cara, eu surfei a maior onda que já tinha visto no Brasil. Na verdade, eu vi uma onda maior do que a que eu peguei. De manhã, no mesmo dia, quando cheguei no pico, falei pro meu câmera: “Tu já viu isso no Brasil? Meu Deus do céu, tem dez metros de onda, fácil.”

Pensei isso, mas se aquela minha tinha 14 metros, aquela outra tinha uns 16, 18. Era muito grande, assustador.

Então, já fui pra corda sabendo que seria um dia espetacular. E aquela onda [do recorde] foi minha primeira onda. Já tinha ido em uma só pra sentir a prancha, e essa foi a que nós realmente fomos lá pra trás, esperamos, ela veio. Aí o Tissot apontou pra primeira, a galera da frente meio que apontou também…

E aí gritei pra ele já ir pra de trás. A de trás era aquele muro — uma mistura de Jaws com Nazaré. Um muro d’água abrindo pros dois lados, mas uma avalanche vindo, querendo te pegar. Foi sensacional, uma das sessões da vida.

Só agradecer ao Tissot, ao Jacaré, aos Jaguaboys — todos eles que fizeram isso ser possível.

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Por enquanto, Chumbo segue com os pés no chão — curtindo a família e de olho no próximo swell. Mas mesmo nos momentos de calmaria, o olhar continua no horizonte, em busca do que vem pela frente.

O Big Wave Tour ainda não voltou, mas para Lucas, a jornada está longe de terminar. Seja dropando a maior onda da vida ou navegando pela paternidade, uma coisa é certa: Chumbo surfa com coração, alma e uma inquietude que simplesmente não o deixa parar — e talvez seja exatamente isso que o aproxima de um 'verdadeiro campeão'.

This article first appeared on SURFER and was syndicated with permission.

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